domingo, 27 de abril de 2008

O silêncio

Acordou e espalmou a mão esquerda. Lentamente abriu os olhos e olhou. Viu que todos os dedos continuavam lá, e sem membrana alguma entre eles. Sentiu um alívio intenso, coberto pela ansiedade de sempre. Ouviu a brisa fresca soprar e contemplou o ar azul marinho. Sentiu a areia fria sob seu corpo seco, e viu que tinha sede. Ergueu-se e pôs-se de pé. Esticou-se e em silêncio bocejou. Pensou em apanhar um coco e beber. Olhou para todos os lados. Hesitou. E viu que não tinha forças para tanto.

Não ainda, pensou. Com a resignação de sempre, caminhou até a borda. Contemplou ainda uma última vez aquela noite o ar, e com agilidade pulou. A água espalhou-se por quilômetros em muitos pingos, e ela mergulhou fundo quando sua cauda instantaneamente reavivou em mil escamas cinzentas. Prateadas quando há luar, ela pensou ainda, seu último pensamento humano antes de se perder na escuridão profunda das águas.

A água que era seu lar e sua prisão, da qual ela ainda iria se libertar definitivo. Ou na qual iria se encerrar sem chance de volta. Um dia.

2 comments:

oldharbourlass disse...

Olá querida amiga.
Preciso de uma piscina dessas e sem hesitar mergulhar no mais profundo do que é ser. Sinto-me presa por várias convenções e fatos religiosos. Meus desejos reprimem-se dentro num escuro abrigo secreto.
Belas palavras encontro em vosso espaço na internet.

beijos.

Monique disse...

então agora vc tbm tem um blog...
mais um pra eu ler =D