domingo, 4 de janeiro de 2009

Ritual

Os lugares que a gente viveu por muito tempo guardam com eles um pedaço de nossa alma, presa nas lembranças um passado que, mesmo que a gente não queira de volta, deixa uma saudade inexplicável e parece tão vivo... A infância que, relembrada, parece melhor do que foi, a adolescência que, relembrada, soa mais dramática do que o vivido. As lembranças todas que se perdem na espuma do copo, na visão do chão antigo, nos risos e nos pensamentos soltos, imagens de rostos conhecidos, memórias de uma gente que não se viu e talvez nunca mais se veja, nomes que não se esquece, feições que mudem tanto que talvez nunca mais se reconheça.

Há rituais dos quais não se deve nunca abrir mão. A peregrinação periódica de volta pra casa é um deles, e por quanto tempo ainda vou segui-lo é um mistério.

Talvez eternamente, pra pegar de volta, por uns dias, aquele pedacinho de alma que ficou preso nas ferragens de memórias fluidas e tão intrincadas, que deslizam sobre si próprias incessantemente, sem jamais se libertarem da prisão que encerram em si.