sexta-feira, 18 de julho de 2008

Luz

A lua estava tão brilhante e tão certinha no céu, que parecia até penduradinha, ou ajeitada com cuidado num buraquinho entre as negras almofadas celestes.

sábado, 5 de julho de 2008

O dia que ele foi embora

Ele chegou correndo e deu de cara com o portão trancado. Não havia carro na garagem, não havia pássaros nem gaiolas na varanda, e nem o sino pendurado no teto. Atormentado, ele chamou o velho da pipoca e o inquiriu. Não sei de nada, disse o velho. Não, vi ele não. Quem viu, insistiu o menino. Como hei de saber, dizia o velho, pergunte a quem mora por aqui.

Corajoso e forte que era, o menino não queria chorar, mas seus olhos ardiam, e ele agarrou-se ao portão e escorregou até o chão, rosto colado na grade fria de ferro, perguntando-se o que tinha feito de errado.

A mãe não tardou. Atravessou a praça correndo ao ver o menino jogado assim, e perguntou ao velho se o dono da casa tinha ido embora. É o que parece, foi a resposta, e ela não conteve o sorriso. Eu avisei, menino bobo!, era o que ela queria gritar. Todos os seus poros ressoavam, Eu avisei! Eu avisei! Eu avisei!

Mas ela conteve os gritos. Apenas aproximou-se da criança e a abraçou, sentindo seu choro baixinho e os soluços contra o peito. Lhe doíam aqueles soluços, e toda a satisfação dos instantes anteriores tornava-se dor. Ela não conseguia pensar mais nada, e tudo o que ela queria era que não houvesse dor.